8 de fevereiro de 2008

História nº 3

Estocolmo, 7 de Outubro de 1998 – « Olharei a tua sombra se não quiseres que te olhe. Quero estar onde estiver a minha sombra, se aí estiveram os teus olhos.” Esta frase de O Evangelho segundo Jesus Cristo reluzia no vestido da bela mulher que assistia, na primeira fila, à entrega do Prémio Nobel da Literatura ao primeiro escritor português a receber tão importante galardão. O romance de amor entre este escritor e a jornalista sevilhana tinha começado anos antes.
Numa tarde de 1986, a jornalista entrou numa livraria de Sevilha, quando viu um livro cujo título lhe despertou curiosidade – tratava-se de O Memorial do Convento. Leu uma página ao acaso e mal chegou a casa não parou até o ter terminado. No dia seguinte regressou à livraria e comprou todos os livros do mesmo autor. Quando acabou de ler O Ano da Morte de Ricardo Reis “foi uma comoção muito forte” e sentiu necessidade de transmitir ao escritor “o que tinha experimentado com a obra”. O encantamento tinha começado…
Quando aterrou no aeroporto de Lisboa, levava um bilhete com o número de telefone do seu escritor de eleição. O encontro teve lugar no Hotel Mundial, às quatro da tarde: "Falámos de política, do que se passava na Europa, e demo-nos conta de que estávamos no mesmo sítio, (…) e aos dois nos interessava literatura". Na manhã seguinte, ele telefonou-lhe para o hotel a pedir-lhe a morada e a espanhola regressou a casa "com uma estranha paz". Um dia “ele escreveu-me uma carta a dizer que, se as circunstâncias da minha vida o permitissem, iria visitar-me. E as circunstâncias da minha vida permitiram-no.” E estas duas vidas não mais se separaram.
Vivem em Lanzarote. Pelas paredes brancas de “A Casa” há, sobretudo, relógios e todos marcam a mesma hora: as quatro da tarde, as mesmas quatro da tarde daquele dia de Julho de 1986, em que se conheceram no átrio do Hotel Mundial, em Lisboa.

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