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30 de novembro de 2009

Fernando Pessoa: 75 anos de Mensagem

Ainda ontem te falámos de Pessoa, mas ele é inesgotável...

Hoje, comemoram-se os 75 anos da publicação de Mensagem, de Fernando Pessoa a única obra em língua portuguesa que veio a lume em vida do poeta. O livro foi composto durante um período de mais de vinte anos, entre 1913 e 1934 , o que o consagra como o trabalho de uma vida.

Mensagem é um poema de forte carga simbólica, composto por 44 poemas, que conduz o leitor através do percurso da nação portuguesa. A obra está divida em três partes: "Brasão", onde se canta a fundação e a construção da nacionalidade e se glorificam os seus heróis e os seus mitos, "Mar Português", assente no esplendor de Portugal do período áureo dos Descobrimentos e "O Encoberto" um entrelaçar entre o auge e o declínio, a derrota e a esperança.
Mensagem termina com a exclamação "É a hora!", um apelo à construção do Império do futuro, o Quinto Império, que se encontra para além do material, desligado do espaço e do tempo reais: uma Índia nova, que não há, para onde só se viaja em naus construídas daquilo que os sonhos são feitos
O poema Mensagem não está tão longe de ti, como poderás pensar. Quando citas frases como “Tudo vale a pena se a alma não é pequena” ou “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”, estás precisamente a evocar Mensagem. Se pretendes contextualizar esses versos no universo da obra, vai à Biblioteca que Mensagem está lá, à espera que a leias.
Ouve, também, um poema de Mensagem, sem duvida o mais conhecido: O Mostrengo, declamado por João Vilaret.



29 de novembro de 2009

Fernando Pessoa

"Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens." Fernando Pessoa, O Eu Profundo

Quando morreu a 30 de Novembro de 1935, poucos faziam ideia da verdadeira grandeza literária de Fernando Pessoa. O seu nome foi crescendo à medida que foi passando o tempo, após a sua morte, e depois da descoberta de uma simples arca de madeira de onde foram emergindo, como que por magia, milhares de inéditos, manuscritos ou dactilografados, que ultrapassaram todas as expectativas, tanto pela quantidade e qualidade como pela variedade de temas, géneros e estilos.
Hoje, é considerado o maior poeta da língua portuguesa ao lado de Luís de Camões e o seu nome é importante em todo o mundo. Em vida, publicou apenas um livro, Mensagem, e semeou alguns versos e polémicas nos jornais e em revistas literárias. No entanto, a vida do poeta foi dedicada a criar e, de tanto criar, criou outras vidas, desdobrando-se em múltiplos poetas, dando corpo e voz a diferentes estilos e visões do mundo, através de mais de setenta “personalidades fictícias” que atingiram o auge com o assombroso quarteto que haveria de transformar a história da literatura portuguesa: Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Bernardo Soares, cada um, só por si, merecedor de figurar em qualquer cânone da poesia mundial.

Fernando Pessoa nasceu a 13 de Junho de 1888 numa familia de ascendência "misto de fidalgos e judeus", que prezava a arte e a cultura. Aos sete anos, em virtude do segundo casamento da mãe, foi viver para Durban, África do Sul, onde passou a juventude e teve exigente educação anglófila. Regressou definitivamente a Portugal em 1905 e frequentou a Faculdade de Letras sem, porém, nunca ter terminado o curso. Trabalhou em profissão cuja "designação mais própria será "tradutor", a mais exacta a de "correspondente estrangeiro" em casas comerciais. O ser poeta e escritor não constitui profissão, mas vocação", segundo o próprio. Ao longo da vida conheceu-se-lhe uma única relação amorosa que não vingou porque o seu destino "pertence a outra Lei… a minha vida gira em torno da minha obra literária – boa ou má, que seja, ou possa ser.”

Apesar do porto seguro que sempre teve no seio da família, Pessoa viveu em constante desassossego espiritual e afectivo, atormentado por sucessivas crises de depressão: "Doi-me a vida aos poucos, a goles..."

A solidão e a bebida, companheiras cada vez mais frequentes, iam-lhe minando o espírito e o corpo, "cada vez mais perto do mito, cada vez menos perto de mim".

“I know not what tomorrow will bring” ou “Eu não sei o que o amanhã trará”, foi a última frase escrita pelo poeta, na véspera da sua morte.

Hoje, volvidos 74 anos da morte de Fernando Pessoa, curvamo-nos perante a sua genialidade e convidamos-te a ti, também, a prestar-lhe homenagem ouvindo o Poema do Menino Jesus de Alberto Caeiro/Fernando Pessoa, pela voz de Maria Bethania.

26 de novembro de 2009

"Balada da Neve"

O poeta Augusto Gil morreu a 26 de Novembro de 1929.
Recordámo-lo, com nostalgia, em “Balada da Neve”, um dos mais célebres poemas da literatura portuguesa e que, ao longo do tempo, tem enternecido sucessivas gerações de crianças.
Talvez tu o queiras decorar e, quem sabe, recitá-lo na festa de Natal da escola.


NB - para ouvires a música e veres automaticamente o powerpoint deves clicar na seta verde que está ao centro da barra de comandos do slideshow. Para leres melhor (em ponto maior), podes clicar no último ícone da mesma barra de comandos (Full Screen).

Para nós a Biblioteca é…

Para nós a Biblioteca
É um mundo de sonhos e fantasias sem fim,
Cheio de flores com cheiro a alecrim.
É um espaço educativo
Que nos recebe de braços abertos
E é sempre criativo.

Ana Carolina, Ana Rita, Ana Isabel, Carolina e Ana Sofia – 5º B


Dentro da biblioteca ocorre magia.
Biblioteca é saber,
Ouvir, ver, pesquisar.
É conseguir crescer,
A aprender a brincar.

Beatriz, Maria José, Sérgio, José e Raul – 5ºE

A Biblioteca é um sítio mágico para todos nós, pois podemos “navegar” no mundo dos livros que nos ensinam muitas coisas que desconhecemos.

André, Lucas, Diogo, Nuno e Luís – 5º E

Para nós a Biblioteca é onde damos asas à imaginação. A recepção é o caminho para os sonhos, a zona de leitura individual é o lugar onde entramos no mundo dos sonhos. A zona multimédia é o lugar onde navegamos no mar da imaginação. A Biblioteca é o lugar onde os sonhos se realizam,
Alexandra, Beatriz, Gabriel, Inês e José – 5ºA

A Biblioteca é um sítio mágico para todos nós, pois podemos “navegar” no mundo dos livros que nos ensinam muitas coisas que desconhecemos.

André, Lucas, Diogo, Nuno e Luís – 5º E


Para nós a Biblioteca é um paraíso. Podemos ver filmes, ouvir música, trabalhar nos computadores e ler livros. A Biblioteca é o nosso espaço preferido.

Paulo, Bruno, Diogo, Catarina e Márcia – 5ºA

Na biblioteca podemos ler, ver filmes, ouvir música… é um espaço de amor, liberdade, sonho, fantasia e bem-estar. É muito divertido estar na Biblioteca. É fixe!

Maria, Daniel, Pedro e Helena – 5º A


A Biblioteca é um sítio de multimédia, de pesquisa, de leitura. A Biblioteca é um espaço onde nos recebem com amor, carinho e com muita simpatia, tal como aqueles que gostam de nós e nos recebem de braços abertos.

Ana Pedroso, Ana Barbosa, Ana Azevedo e Bruna – 5º I

O BAILE NA BIBLIOTECA

25 de novembro de 2009

Eça de Queirós

A 25 de Novembro de 1945, nasceu José Maria de Eça de Queirós, um dos maiores escritores da lusofonia.

24 de novembro de 2009

24 de Novembro - Dia Nacional da Cultura Científica

"Estimular é saber tirar proveito das coisas, saber encantar, digamos, pôr as coisas em relevo, mesmo as coisas insignificantes (...) Tornar pensáveis as coisas habituais que não se pensam." Rómulo de Carvalho/António Gedeão (1906-1997)

O Dia Nacional da Cultura Científica, 24 de Novembro, foi instituído em 1997 para comemorar o nascimento de Rómulo de Carvalho e divulgar o seu trabalho na promoção da cultura científica e no ensino da ciência.

A vida e obra de Rómulo de Carvalho são o paradigma acabado da simbiose perfeita entre o rigor da cultura científica e a magia da palavra da cultura humanista.
Homem multifacetado, historiador, divulgador da ciência, pedagogo, professor, dedicou-se com intensa devoção à investigação científica e, com igual fervor, invocou as musas da literatura. O gosto pelas letras revelou-se precocemente. Aos cinco anos escreveu os primeiros poemas e aos dez decidiu completar "Os Lusíadas" de Camões, porém, a atracção pelo lado experimental e pragmático da vida levou-o a formar-se em Ciências Físico-Químicas. A par da carreira de professor dedicou-se à investigação e divulgação científicas, tendo deixado vasta obra neste campo.
Embora o fascínio pela palavra poética o tenha acompanhado durante toda a sua vida, só aos 50 anos, após ter participado num concurso de poesia, publicaria o seu primeiro livro de poemas, “Movimento Perpétuo”. A obra literária de António Gedeão (poética, novelística, teatral e ensaística) encontra-se reunida em "Obra Completa - António Gedeão".
Se és frequentador habitual deste blogue e da Biblioteca, somos fãs de António Gedeão, de certeza que já “tropeçaste” em algum dos seus poemas: “Lágrima de Preta”, “Pedra Filosofal", “Arma Secreta”...


Hoje, para o homenagear, deixamos-te Rómulo de Carvalho a dizer "Poema para Galileu" de Gedeão, o seu pseudónimo literário.






21 de novembro de 2009

Novas do bibliopaper "À Descoberta da Biblioteca"!


Olá, meninas e meninos do 5º ano!
Hoje vimos dar notícias do bibliopaper, “À Descoberta da Biblioteca”, que realizaram em finais de Outubro.
Antes de mais, queremos dar os parabéns a todos, pois que todos se portaram lindamente. Estamos certos de que se divertiram enquanto aprenderam e de que já se movem na Biblioteca com perfeito à vontade. Então, divulgamos agora o grupo e respectivos elementos, de cada turma, que conquistaram o primeiro lugar. Assim:

Resultados do Bibliopaper - 2009

5.º A - Grupo 2
Alexandra Dourado, Beatriz Araújo, Gabriel Graça, Inês Pimenta e José Silva

5.º B - Grupo 2
André Pinheiro, Rúben Oliveira, Diogo Gonçalves e Francisco Malheiro

5.º C - Grupo 1
Alexandre Martins, Ana Catarina Caridade, António Fernandes, Catarina Mota e Emy Gervais

5.º D - Grupo 1
Rui Alberto Sousa, Nuno Filipe Vieira, Rafael Fernandes, João Pimenta e José Gama

5.º E - Grupo 4
Beatriz Torres, Maria José Cunha, Sérgio Araújo, José Silva e Raul Rodrigues

5.º F - Grupo 1
João Nuno Gouveia, Hugo Abreu, João Marcelo Pedroso, Catarina Rodrigues e Joana Soares

5.º G - Grupo 2
João Manuel Leão, Bruna Esteves, Vânia Filipa Lima, Sara Gomes e Ana Margarida Alves

5.º H - Grupo 5
Angelina Ferreira, Ana Rita Azevedo, Ana Margarida Ramos, Rute Andreia Sousa e Sara Oliveira

5.º I - Grupo 3
Filipe Fernandes, Inês Mendes, Inês Alves, Jéssica Oliveira e João Sousa

Parabéns aos vencedores! Os diplomas ser-lhes-ão entregues brevemente.

Vejam, agora, um vídeo que conta a história de uma menina que não gostava de livros, mas acaba por descobrir o prazer de ler.

20 de novembro de 2009

Convenção sobre os Direitos da Criança

Celebra-se, hoje, 20 de Novembro, o vigésimo aniversário da Convenção sobre os Direitos da Criança aprovada por unanimidade, pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1989.
A Convenção enuncia um amplo conjunto de direitos fundamentais de todas as crianças, assim como as respectivas disposições para que sejam aplicados.
A Convenção sobre os Direitos da Criança é o tratado internacional sobre direitos humanos mais reconhecido da história, tendo sido assinado por 193 países. Apenas, os Estados Unidos da América (por imposições legais próprias) e a Somália, ainda não a ratificaram. Portugal subscreveu a Convenção em 21 de Setembro de 1990.

Não obstante...



16 de novembro de 2009

Dia Internacional da Tolerância

“Sendo que eu sou imperfeito e necessito da tolerância e da bondade dos outros, também hei-de tolerar os defeitos do mundo, até que possa encontrar o segredo que me permita remediá-lo.” Mahatma Gandhi

Hoje é dia de celebrarmos a TOLERÂNCIA.
O Dia Internacional da Tolerância foi instituído a 16 de Novembro de 1995, pelos Estados Membros da ONU para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) que, “alarmados pela intensificação actual da intolerância, da violência, do terrorismo, da xenofobia, do nacionalismo agressivo, do racismo, do anti-semitismo, da exclusão, da marginalização e da discriminação contra minorias nacionais, étnicas, religiosas, (…)”, proclamaram a Declaração de Princípios sobre a Tolerância.

Se passares, hoje, na Biblioteca, podes fazer um teste para saberes se és tolerante. Oferecemos-te, também, um dos poemas que por lá estão "estendidos" e que de algum modo se relacionam com os valores da tolerância. Atenção: a molinha que os segura, não é para levar...

Desejamos-te um bom Dia da Tolerância e deixamos, aqui, imagens e palavras para reflectires sobre este tema.


15 de novembro de 2009

Dia Nacional da Língua Gestual

Comemora-se hoje o Dia Nacional da Língua Gestual Portuguesa (LGP) que tem o seu alfabeto manual.



A quem vive nesse "mundo do silêncio" dedicamos, hoje - dia da língua gestual, o poema "As Mãos", de Manuel Alegre.

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.


Um video (apesar de publicitário) fantástico...

10 de novembro de 2009

No dia seguinte...

Ontem, passados vinte anos, reviveu-se, um pouco por todo o mundo, a memorável noite de 9 de Novembro de 1989, a noite em que o Muro de Berlim ruiu e com ele a velha ordem mundial, representada pelo antagonismo entre o capitalismo americano e o comunismo soviético.
Ontem, os senhores do mundo acorreram a Berlim para, em cerimónia simbólica e emotiva, comemor “in loco” a incrível noite de 9 de Novembro de 1989.
Ontem, na Biblioteca da nossa escola, lembrámos a noite de liberdade projectando no “muro inscrito” na parede da recepção as imagens que há 20 anos mudaram o rumo da história do mundo.
Ontem, todos fomos um pouco berlinenses como o foi, um dia, o Presidente Kennedy.
Ontem, na euforia da celebração, quase nos esquecemos que há outras barreiras ao redor do mundo que é urgente derrubar.
Hoje, no dia seguinte, fixamo-nos e propomos reflexão sobre outros muros, também eles “muros da vergonha”, que em nome da estabilidade e da segurança, oprimem, dividem, isolam, segregam…


"O céu ao menos não tem muros e as aves não riscam fronteiras nem põem vidros partidos nas nuvens..." José Gomes Ferreira


6 de novembro de 2009

Simplesmente Sophia

Dizemos «Sophia» como se esta palavra fosse sinónimo absoluto de poesia.
Dizemos «Sophia» e a nossa memória enche-se do som que as palavras têm.
Dizemos «Sophia» e de repente o ar é límpido, as águas transparentes, há sempre uma casa na falésia e o sol faz rebentar o calor na cal das paredes.
Dizemos «Sophia» e todas as flores e todos os peixes têm nome, e as crianças tornam-se mais ricas quando os encontram.
Dizemos «Sophia» e não precisamos de dizer mais nada.


Alice Vieira

Nasceu no Porto a 6 de Novembro de 1919. Faria hoje 90 anos.
Não carece de grandes apresentações: nome maior da literatura portuguesa, a primeira mulher a receber o Prémio Camões, poeta, contista, tradutora, de voz inteira e vertical que tão exemplarmente cumpriu, tanto na obra como na vida. Falamos, evidentemente, de Sophia de Mello Breyner Andersen para todos simplesmente Sophia.
Prestamos-lhe, hoje, tributo num entrelaçar de sonoridades de palavras limpas e cristalinas, as suas próprias palavras, a palavra essencial de Sophia.



Biografia

Tive amigos que morriam, amigos que partiam
Outros quebravam o seu rosto contra o tempo.
Odiei o que era fácil
Procurei-te na luz, no mar, no vento.

É-me necessário fazer versos, é-me vedado saber porquê.
Poesia é a minha explicação com o universo, a minha convivência com as coisas, a minha participação no real, o meu encontro com as vozes e as imagens.

O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê

O poema alguém o dirá
Às searas

Sua passagem se confundirá
Como rumor do mar com o passar do vento

O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento

No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas

(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)

Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas
E entre quatro paredes densas.

Na minha infância, antes de saber ler, ouvi recitar de cor um poema tradicional português, chamado Nau Catrineta.
Tive a sorte de começar pela tradição oral, a sorte de conhecer o poema antes de conhecer a literatura.
Era, de facto, tão nova que nem sabia que os poemas eram escritos por pessoas, mas julgava que eram consubstanciais ao universo, que eram a própria respiração das coisas, o nome deste mundo dito por ele próprio.
Pensava também que se conseguisse ficar completamente imóvel e muda em certos lugares mágicos do jardim, eu conseguiria ouvir um desses poemas que o ar continha em si.

Aqui me sentei quieta
Com as mãos sobre os joelhos
Quieta muda secreta
Passiva como os espelhos

Musa ensina-me o canto
Imanente e latente
Eu quero ouvir devagar
O teu súbito falar
Que me foge de repente.

A poesia não me pede propriamente uma especialização pois a sua arte é a arte do ser. Também não é tempo ou trabalho o que a poesia me pede. Nem me pede uma ciência, nem uma estética, nem uma teoria. Pede-me antes a inteireza do meu ser, uma consciência mais funda do que a minha inteligência, uma fidelidade mais pura do que aquela que eu posso controlar. Pede-me que viva atenta como uma antena, pede-me que viva sempre, que nunca durma, que nunca me esqueça. Pede-me uma obstinação sem tréguas, densa e compacta.

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Aquele que vê o espantoso esplendor do mundo é levado a ver o espantoso sofrimento do mundo.

Esta gente cujo rosto
às vezes luminoso
E outras vezes tosco

Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis

Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre

Pois gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome

E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada

Meu canto se renova.

A poesia é das raras actividades humanas que, no tempo actual, tentam salvar uma certa espiritualidade. A poesia não é uma espécie de religião, mas não há poeta, crente ou descrente, que não escreva para a salvação da sua alma – quer a essa alma se chame amor, liberdade, dignidade ou beleza.

Pudesse eu não ter laços nem limites
Oh vida de mil faces transbordantes
P'ra poder responder aos Teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes.

A cultura é uma das formas de libertação do homem. Por isso, perante a política, a cultura deve sempre ter a possibilidade de funcionar como antipoder. E se é evidente que o Estado deve à cultura o apoio que deve à identidade de um povo, esse apoio deve ser equacionado de forma a defender a autonomia e a liberdade da cultura para que nunca a acção do Estado se transforme em dirigismo.

Nunca choraremos bastante quando vemos
O gesto criador ser impedido
Nunca choraremos bastante quando vemos
Que quem ousa lutar é destruído
Por troças por insídias por venenos
E por outras maneiras que sabemos
Tão sábias tão subtis e tão peritas
Que nem podem sequer ser bem descritas.

Os meninos da nossa escola, como tantos outros, também se espantam com os contos com que Sophia, um dia, embalou os sonhos de seus filhos: A Menina do Mar, A Fada Oriana, A Floresta, O Cavaleiro da Dinamarca…

Comecei a inventar histórias para crianças quando os meus filhos tiveram sarampo… Primeiro, contei todas as histórias que sabia. Depois, mandei comprar alguns livros que tentei ler em voz alta. Mas não suportei a pieguice da linguagem nem a sentimentalidade da "mensagem"; uma criança é uma criança, não é um pateta. Atirei os livros fora e resolvi inventar. Procurei a memória daquilo que tinha fascinado a minha própria infância.





Feliz aquela que efabulou o romance
Depois de o ter vivido
A que lavrou a terra e construiu a casa
Mas fiel ao canto estridente das sereias
Amou a errância, o caçador e a caçada
E sob o fulgor da noite constelada,
À beira da tenda, partilhou o vinho e a vida.