8 de fevereiro de 2008

História nº 5


É considerado o maior poeta da língua portuguesa ao lado de Luís de Camões. Em vida, publicou apenas um livro, Mensagem, e alguns versos nos jornais. No entanto a vida do poeta foi dedicada a criar e, de tanto criar, criou outras vidas, desdobrando-se em múltiplas personagens através dos seus heterónimos:"…Desde criança tive a tendência para criar em meu torno um mundo fictício…”
Será que a única paixão que se lhe conhece não terá passado de mais um produto de sua vasta criação? Ela diz que não: “Estava realmente muito apaixonado por mim, posso dizê-lo, e tinha uma necessidade enorme da minha companhia”.
Conheceram-se em 1920, quando ela foi estagiar na firma onde ele trabalhava como tradutor. Foi ele quem a recebeu no primeiro dia e, passado pouco tempo, começaram um namoro misterioso, quase secreto. Ele queria uma relação reservada e não gostava que ela dissesse que namoravam: “Não digas a ninguém que nós namoramos, é ridículo. Amamo-nos.”; “Não há quem saiba se eu gosto de ti ou não, porque eu não fiz de ninguém confidente sobre o assunto”. Tão pouco frequentava a casa da namorada, como era habitual na época: “Sabes, é preciso compreender que isso é de gente vulgar, e eu não sou vulgar”.
A relação durou pouco mais de um ano e decorreu em duas fases, espaçadas por nove anos. Durante esse período, mantiveram uma longa correspondência amorosa, publicada em 1978 sob o título “Cartas de Amor”. “O poeta é um fingidor”. E o autor das cartas também é um fingidor ou essas cartas são rosto do homem que existiu por detrás do poeta? Seja como for, “Cartas de Amor” revelam um ser capaz de amar, tão ternurento e ridículo como o mais comum dos amantes: Vês, meu Bebé adorado, qual o estado de espírito em que tenho vivido estes dias, estes dois últimos dias sobretudo? E não imaginas as saudades doidas, as saudades constantes que de ti tenho tido.” 19/2/1920; “Bebe, vem cá, vem para o pé do Nininho; vem para os braços do Nininho; põe a tua boquinha contra a boca do Nininho… Vem… estou só, tão só de beijinhos… 5/4/1920
Depois foi a ruptura, há muito anunciada: “Quanto a mim …O amor passou.” "O meu destino pertence a outra Lei…” A escolha estava feita – “…a minha vida gira em torno da minha obra literária – boa ou má, que seja, ou possa ser.”
Ela haveria de refazer a sua vida casando com outro; ele morreria em 1935, no meio da maior solidão, consumido pela depressão e pelo álcool.

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