14 de novembro de 2007

RECORDANDO TORGA NO CENTENÁRIO DO SEU NASCIMENTO

Apesar de Miguel Torga não valorizar prémios, recebeu vários ao longo da sua vida literária. Numa das cerimónias em que lhe entregaram um desses galardões, Torga, ao usar da palavra, contou a seguinte parábola.
"Quando fiz exame da quarta classe e fiquei distinto, meu Pai, um pobre cavador sensível, chorou de alegria e comprou-me um cavaquinho no Bazar dos Três Vinténs. Foi a primeira prenda que recebi, mas, apesar de merecida, deixou-me tristes recordações. Tanto dedilhei na zanguizarra, que lhe rebentei as cordas. E, já desanimado de arranjar outras, lembrei-me de recorrer ao Xaronda, dono de uma guitarra a valer. Com restos dos bordões que por lá tivesse, poderia eu refazer a minha lira. Mas o homem não gostava de crianças. E, farto de ser importunado, numa hora de impaciência tirou-me a viola das mãos e escaqueirou-a contra uma parede. Decorridos cinquenta anos de sucessivas ilusões desfeitas, fui surpreendido pela notícia de que me queriam oferecer um novo bandolim.

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