2 de abril de 2012

Dia Internacional do Livro Infantil


Celebra-se em todo o mundo. O dia de hoje é dedicado ao livro infantil.


Para assinalar esta data, a Direção-Geral do Livro e das Biblotecas (DGLB) publicou um cartaz da autoria de Yara Kono, vencedora do Prémio Nacional de Ilustração de 2011.
Todos os anos também é pedida uma mensagem a um escritor. Este ano foi Francisco Hinojosa, escritor mexicano, o escolhido. A mensagem original pode ser lida aqui.

Era uma vez um conto que contava o mundo inteiro
Era uma vez um conto que contava o mundo inteiro. Na verdade não era só um,
mas muitos os contos que enchiam o mundo com as suas histórias de meninas
desobedientes e lobos sedutores, de sapatinhos de cristal e príncipes
apaixonados, de gatos astutos e soldadinhos de chumbo, de gigantes bonacheirões
e fábricas de chocolate. Encheram o mundo de palavras, de inteligência, de
imagens, de personagens extraordinárias. Permitiram risos, encantos e convívios.
Carregaram-no de significado. E desde então os contos continuam a multiplicar-se
para nos dizerem mil e uma vezes: “Era uma vez um conto que contava o mundo
inteiro…”
Quando lemos, contamos ou ouvimos contos, cultivamos a imaginação, como se
fosse necessário dar-lhe treino para a mantermos em forma. Um dia, sem que o
saibamos certamente, uma dessas histórias entrará na nossa vida para arranjar
soluções originais para os obstáculos que se nos coloquem no caminho.
Quando lemos, contamos ou ouvimos contos em voz alta, estamos a repetir um
ritual muito antigo que cumpriu um papel fundamental na história da civilização:
construir uma comunidade. À volta dos contos reuniram-se as culturas, as épocas
e as gerações, para nos dizerem que japoneses, alemães e mexicanos são um só;
como um só são os que viveram no século XVII e nós mesmos, que lemos um conto
na Internet; e os avós, os pais e os filhos. Os contos chegam iguais aos seres
humanos, apesar das nossas grandes diferenças, porque no fundo todos somos os
seus protagonistas.
Ao contrário dos organismos vivos, que nascem, reproduzem-se e morrem, os
contos são fecundos e imortais, em especial os da tradição oral, que se adequam
às circunstâncias e ao contexto do momento em que são contados ou rescritos. E
são contos que nos tornam seus autores quando os recontamos ou ouvimos.
E também era uma vez um país cheio de mitos, contos e lendas que viajaram
durante séculos, de boca em boca, para mostrar a sua ideia de criação, para
narrar a sua história, para oferecer a sua riqueza cultural, para aguçar a
curiosidade e levar sorrisos aos lábios. Era igualmente um país onde poucos
habitantes tinham acesso aos livros. Mas isso é uma história que já começou a
mudar. Hoje os contos estão a chegar cada vez mais aos lugares distantes do meu
país, o México. E, ao encontrarem os seus leitores, estão a cumprir o seu papel de
criar comunidades, de criar famílias e de criar indivíduos com maior possibilidade
de serem felizes.
Francisco Hinojosa
(trad. Maria Carlos Loureiro)

0 comentários: